O castelo de Santa Cruz, residência de recreio da Corte, situado a
onze léguas da capital é uma antiga fazenda dos jesuítas contendo uma
igreja e um convento construídos em cima de uma colina que domina
imensas planícies entrecortadas de florestas, através das quais passa o
caminho para Minas Gerais. Santa Cruz é sem contestação uma das maiores
propriedades da província do Rio de Janeiro.
Pertencia aos bens da Coroa sob D. João VI e a Corte aí passava seis
semanas, anualmente, durante o verão. Sempre modesto nos seus hábitos,
contentava-se o Rei com uma cela e o resto de sua família via- se
obrigado a imitá-lo.
Mas, por ocasião do casamento do príncipe real D. Pedro, já as ideias
eram mais largas e o Rei sentiu a necessidade de derrubar as divisões
internas do convento para construir aposentos mais dignos de uma
residência real. Encarregou, pois, o conde de Rio Seco, superintendente
dos bens da coroa, de dirigir as obras. Com efeito, ao chegar a princesa
Leopoldina aí encontrou aposentos bem arranjados. Desde então Santa
Cruz tornou-se tanto mais agradável para a jovem família real quanto o
lugar apresentava passeios variados para se fazerem a cavalo ou de
carro, prazeres campestres bem diferentes do fastidioso protocolo da
cidade.
Mais tarde D. Pedro, Imperador e reformador, tomou a si a direção da
fazenda de Santa Cruz e aumentou-lhe a renda com novas aquisições de
terras; aí estabeleceu um haras, prado fechado para criação de cavalos.
Monarca filantropo, procurou ao mesmo tempo cercar essa solidão real de
uma população dedicada e reconhecida. Com efeito, depois de ter dado
liberdade a todos os escravos a seu serviço particular, quando ainda
príncipe, concedeu gratuitamente a cada um deles um pedaço de terreno ao
lado do castelo, para a construção de uma pequena casa, e terras de
cultura bastante consideráveis na planície, para atender ao sustento das
famílias dos novos colonos.
O direito de propriedade incentivou a dedicação desses novos
cidadãos, os quais desenvolveram os diferentes tipos de atividades úteis
aos viajantes das Minas, chegando pouco depois a oferecer-lhes um pouso
cômodo numa estrada bem pouco frequentada.
Atualmente, honrada amiúde com a presença do soberano, a aldeia de
Santa Cruz, cuja colonização data apenas de 1822, aumentada com algumas
casas burguesas das autoridades locais, conta uma população numerosa e
ativa.
Preparavam-se no ano que precedeu a partida de D. Pedro I, tanto no
interior do palácio e da igreja como nas dependências da propriedade,
obras consideráveis: construção de oficinas, usinas, etc.: pensava- se
também abrir um canal para o mar, a fim de facilitar a exploração desse
imenso domínio imperial, ora administrado pela regência de D. Pedro II,
sucessor de seu pai.
Fonte:
[Debret1978B] J. B. Debret, Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, da de Paulo, E. U. São., Ed., Livraria Itatiaia Editora Limitada, 1978, vol. Tomo II Volume III.
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