domingo, 5 de maio de 2013

Vista do Castelo Imperial de Santa Cruz, por Jean Baptiste Debret

Vue de chateau impérial de Santa-Crux; Inscription du rocher dos Arvoredos (des Buissons).
O castelo de Santa Cruz, residência de recreio da Corte, situado a onze léguas da capital é uma antiga fazenda dos jesuítas contendo uma igreja e um convento construídos em cima de uma colina que domina imensas planícies entrecortadas de florestas, através das quais passa o caminho para Minas Gerais. Santa Cruz é sem contestação uma das maiores propriedades da província do Rio de Janeiro.
Pertencia aos bens da Coroa sob D. João VI e a Corte aí passava seis semanas, anualmente, durante o verão. Sempre modesto nos seus hábitos, contentava-se o Rei com uma cela e o resto de sua família via- se obrigado a imitá-lo.
Mas, por ocasião do casamento do príncipe real D. Pedro, já as ideias eram mais largas e o Rei sentiu a necessidade de derrubar as divisões internas do convento para construir aposentos mais dignos de uma residência real. Encarregou, pois, o conde de Rio Seco, superintendente dos bens da coroa, de dirigir as obras. Com efeito, ao chegar a princesa Leopoldina aí encontrou aposentos bem arranjados. Desde então Santa Cruz tornou-se tanto mais agradável para a jovem família real quanto o lugar apresentava passeios variados para se fazerem a cavalo ou de carro, prazeres campestres bem diferentes do fastidioso protocolo da cidade.
Mais tarde D. Pedro, Imperador e reformador, tomou a si a direção da fazenda de Santa Cruz e aumentou-lhe a renda com novas aquisições de terras; aí estabeleceu um haras, prado fechado para criação de cavalos. Monarca filantropo, procurou ao mesmo tempo cercar essa solidão real de uma população dedicada e reconhecida. Com efeito, depois de ter dado liberdade a todos os escravos a seu serviço particular, quando ainda príncipe, concedeu gratuitamente a cada um deles um pedaço de terreno ao lado do castelo, para a construção de uma pequena casa, e terras de cultura bastante consideráveis na planície, para atender ao sustento das famílias dos novos colonos.
O direito de propriedade incentivou a dedicação desses novos cidadãos, os quais desenvolveram os diferentes tipos de atividades úteis aos viajantes das Minas, chegando pouco depois a oferecer-lhes um pouso cômodo numa estrada bem pouco frequentada.
Atualmente, honrada amiúde com a presença do soberano, a aldeia de Santa Cruz, cuja colonização data apenas de 1822, aumentada com algumas casas burguesas das autoridades locais, conta uma população numerosa e ativa.
Preparavam-se no ano que precedeu a partida de D. Pedro I, tanto no interior do palácio e da igreja como nas dependências da propriedade, obras consideráveis: construção de oficinas, usinas, etc.: pensava- se também abrir um canal para o mar, a fim de facilitar a exploração desse imenso domínio imperial, ora administrado pela regência de D. Pedro II, sucessor de seu pai.

Fonte:
[Debret1978B] J. B. Debret, Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, da de Paulo, E. U. São., Ed., Livraria Itatiaia Editora Limitada, 1978, vol. Tomo II Volume III.
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