Adalberto era conhecido como Dog na Favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão.
Quando deixou o Complexo do Alemão, em maio do ano passado, Adalberto Santos da Silva teve uma
forte discussão com a mãe. A doméstica Ilma Santos da Silva queria o
filho por perto, na Favela Nova Brasília, e pediu que ele não seguisse
os traficantes da área, de mudança para a Favela do Rola, em Santa
Cruz. Três meses depois, lembrou da mãe ao ser baleado na operação
filmada pela Polícia Civil, em 16 de agosto do ano passado.
Socorrido
por um amigo de infância, só conseguia falar: "Chama a minha mãe. Eu
quero falar com a minha mãe". Um dos cinco mortos na Favela do Rola,
Adalberto morreu antes que pudesse falar novamente com a mãe. Mas a
história foi contada pelo amigo, que ligou para a família com a missão
de dar a notícia.
O enterro no Cemitério de Inhaúma foi o último capítulo de uma história que dona Ilma luta para esquecer.
—
Às vezes, ela olha a foto dele, em silêncio. Mas tenta não pensar
nisso. Para ela, passou — conta a doméstica Milla Mariana da Silva, de
30 anos, prima de Adalberto.
Menino do tráfico
Ela
teve cinco filhos. Adalberto, o único homem, se envolveu com o tráfico
após a morte do pai. O entregador Francisco de Assis Filho foi
esmagado por caixas de cerveja quando o motorista do caminhão perdeu o
controle do veículo e tombou, há mais de dez anos.
Adalberto
largou a escola aos 12 anos e ganhou as ruas. No tráfico, passou por
novo batismo, recebendo apelidos e ganhando mulheres. Passou a ser
chamado de Dog, Magrinho ou Passarinho. Parentes contam que colecionava
namoradas na Nova Brasília. Assumiu dois filhos. Mas teria sido pai de
outras seis crianças. Chegou a ser o gerente de uma boca de fumo na
favela. Mas não costumava ostentar cordões de ouro. Fazia compras para a
mãe e não permitia que as irmãs se envolvessem com traficantes.
Os agentes da Core carregam um dos feridos durante a operação: local da morte foi alterado
Adalberto
até tentou se afastar do crime. Entre 29 de março de 2010 e 1 de abril
de 2011, trabalhou como ajudante de obras em duas empresas, onde
recebia R$ 792 por mês. Depois, ficou preso por seis meses, acusado de
participação num homicídio na mesma investigação que envolveu Fabiano
Atanazio da Silva, o FB, apontado como mandante do crime. Foi solto
seis meses depois, por falta de provas. O processo foi arquivado.
Em
29 de agosto de 2011, Adalberto Santos da Silva participou de uma
audiência de instrução e julgamento no processo que investigava a morte
de Rodrigo de Almeida, executado a tiros em 10 de agosto de 2010. O
corpo da vítima foi jogado numa pedreira. O processo foi arquivado na
sexta-feira pela 4ª Vara Criminal, por falta de provas.
Fabiano Atanásio, o FB, ao dar entrada no presídio do Rio, em janeiro do ano passado
FB só pelos jornais
Na
ocasião, Adalberto negou participação no crime e envolvimento com o
tráfico. “O Exército abordou nós lá na Nova Brasília. Eu estava com a
minha família, entregando convite da festa do meu filho”. E disse que
só conhecia o traficante FB, acusado de ser o mandante do crime, “pela
televisão e pelos jornais”.
O
advogado Edir Nascimento da Silva, que defendeu Adalberto no processo,
disse ter cobrado R$ 25 mil pelos seus serviços. Mas só teria recebido
R$ 3 mil.
- Fui cobrar os honorários à família e falaram que ele estava morto.
O advogado teve contato com Adalberto no período em que ele ficou preso, entre abril e outubro de 2011.
- Não parecia uma pessoa violenta. Chorava muito e falava que estava com saudade da família.
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