A história de
Guaratiba confunde-se com a história da estratégia de riqueza da Cidade
Carioca.
No Segundo Império a
Região, Freguesia de Guaratiba, era destino daqueles que queriam ficar
mais próximo do centro político e da sua geração de riqueza. Como país
agrário a nossa maior riqueza era a produção agrícola, e aqui produzia - se
mais açúcar que qualquer outra Província da capitania de São
Sebastião, além de ser um dos maiores produtores de farinha de mandioca, arroz,
milho, batata e café. Guaratiba tinha um perímetro bem maior do que a atual, na
época também faziam parte de seu terrItório Várzea Grande e Várzea Pequena
(hoje as Vargens), Piabas, Prainha, Joary , Cantagalo e o Curral Falso.
Em 1833 por Decreto da
Regência de 15 de Janeiro e do Edital da Comarca em 28 do mesmo mês, a
Região foi dividida em
Dois Distritos o 1º e o 2º Distrito de Guaratiba ,
tendo como linha de corte, a referência para a divisão dos Distritos, o Rio
Cabuçu / Piraquê. Na época o principal corpo hídrico da freguesia, inclusive de
queixas à inspetoria policial pela falta de vigilância por ser o principal
ponto de contrabando dos “pretos Africanos”.
Vale observar que
naquela época a região já era conhecida como ilha de Guaratiba, devido aos seus
córregos e riachos que circundavam a região. O que nada tem haver com essa
idiotice que encontramos em diversos sites, inclusive no da Secretaria de
Turismo do Município e em livros espalhados que relatam que a população não
sabia pronunciar o nome de um dito fazendeiro de nome William, ora inglês ora
escocês. O que na verdade não existiu na Região.
E como não havia uma
ponte para facilitar a travessia do escoamento da produção do 1º distrito para
o 2º distrito, pois o escoamento dava-se pelo porto da ilha de Guaratiba. Os
negociantes, produtores e eleitores organizaram um abaixo assinado para ser
entregue ao Juiz de Paz, com o objetivo da construção de uma ponte
para integrar os dois distritos. Os distritos eram separados pelo Rio Cabuçu,
esse que fica atrás da fábrica de pneus Michelin que se denomina instalada em Campo Grande quando
sabemos que esta e sempre esteve em Guaratiba.
Em 1877 a produção era tamanha
que fora determinado por Edital Público pela “Diretoria das Obras
Municipaes da Corte” onde foram examinados nove (9) pretendentes para a
Construção da Estrada da Grota Funda. Tendo a proposta do Senhor Carlos de
Magalhães de Mello como aceita vencedora por garantir além da construção da
estrada, a construção de duas pontes em arcaria de tijolos e encontro de pedras
de cantaria, seis (6) pontilhões e a manutenção por mais quatro anos da
estrada por despesas suas. Tudo num valor de 80.000$000es (oitenta Contos de
Reis).
Algo próximo hoje, a
grosso modo, de 5 milhões de reais. Tudo com o objetivo de facilitar o
escoamento da produção do outro lado da Serra pelo Porto da Ilha.
No início do Século
XX começa a construção da Estrada da Barra de Guaratiba no molde atual, a
pedido de Antônio Pantaleão de Melo, comerciante e presidente da Junta
Eleitoral de Guaratiba - 1893
a 1920 -, ao então presidente Nilo Peçanha, que se
hospedava em uma de suas residências. A obra só foi concluída no Governo de
Hermes da Fonseca, nome que dera a um de seus filhos em homenagem ao então
Presidente.
Em 1918, O Decreto nº
1185, de 5 de Janeiro fixou em três zonas a estrutura metropolitana da cidade:
urbana, suburbana e rural. A divisão das três zonas em distritos legais e a
definição de suas funções possibilitou a implantação da primeira lei
urbanística objetiva na cidade do Rio de Janeiro. Portanto, a década de 1920,
torna-se um período de consolidação da região de Guaratiba como zona rural. E
assim surgiu a Fazenda Modelo como promulgadora da atividade agrícola na
Região.
Esses exemplos
supracitados são apenas para lembra de que forma a Região foi se desenhando sem
uma planificação urbana.
Hoje estamos diante
de grandes transformações e estamos parados, embasbacados com tanta obra nunca
visto em um mesmo local. O que não percebemos é que os Impactos das obras na
Região mudará para sempre o cotidiano diário de todos nós moradores e amantes
de Guaratiba. Nem sempre o cimento e o concreto é a melhor solução! Afinal os
alimentos não proliferam em prateleiras e estacas de concreto. A capitação mais
eficaz de carbono ainda é feita por vegetais e não há nada melhor que uma boa
sombra de uma frondosa árvore.
Não aconteceu nenhuma
reunião para se discutir os seus impactos, A legislação foi colocada de baixo
dos interesses imobiliários, a especulação imobiliária determina o quê e como a
Câmara Municipal deve votar. Temos o Estatuto das Cidades; temos
uma Lei de consórcios públicos votada em 2005, temos o Conselho da Cidades,
Conselhos Técnicos, Um Instrumento institucional novo, valiosíssimo, mas a
sociedade e principalmente a comunidade política e até jurídica, passam por
cima. Agem como se ela não existisse.
Foram aprovados
loteamentos em áreas de preservação permanente; loteamento para mais de 12.000
unidades. Só no ano retrasado foram aprovados mais de 2.000 unidades
habitacionais em nossa região. As nossas florestas estão sendo derrubadas para
darem lugar aos condomínios luxuosos é só olharem para o maciço da Pedra Branca
(tanto pela Ilha como por Barra de Guaratiba); o Morro do Cabuçu; a Serra do
Cantagalo e do Chacrinha. Nossos rios estão sendo fechados como cadáveres
guardados em caixões.
Depois querem se queixar das enchentes. Tapar córrego é estar
criando um problema para um outro lugar.
Uma agressão jamais
vista e aceitável por qualquer estudioso e cidadão de senso comum nos dias
atuais!
O fato é que estamos
perdendo a única oportunidade de realizar em Guaratiba uma política pioneira e
exemplar no Brasil a de tornar Guaratiba na Região ECOLÓGICA da Cidade do Rio
de Janeiro. Um modelo que poderia ser proposto aos participantes dos congressos
e cimeiras ambientais mundo a fora.
Alexandre Pantaleão -
Sociólogo e Diretor de Assuntos Institucionais do CEPAG e
Fernanda Zine Diniz -
Geógrafa e Professora
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