sexta-feira, 4 de maio de 2012

Guaratiba um progresso que o inglês não quer ver na Rio + 20


A história de Guaratiba confunde-se com a história da estratégia de riqueza da Cidade Carioca.
No Segundo Império a Região, Freguesia de Guaratiba,  era destino daqueles que queriam ficar mais próximo do centro político e da sua geração de  riqueza. Como país agrário a nossa maior riqueza era a produção agrícola, e aqui produzia - se mais açúcar que qualquer outra Província   da capitania de São Sebastião, além de ser um dos maiores produtores de farinha de mandioca, arroz, milho, batata e café. Guaratiba tinha um perímetro bem maior do que a atual, na época também faziam parte de seu terrItório Várzea Grande e Várzea Pequena (hoje as Vargens), Piabas, Prainha, Joary , Cantagalo e o Curral Falso.

Em 1833 por Decreto da Regência  de 15 de Janeiro e do Edital da Comarca em 28 do mesmo mês, a Região foi dividida em Dois Distritos o 1º  e o 2º Distrito de Guaratiba , tendo como linha de corte, a referência para a divisão dos Distritos, o Rio Cabuçu / Piraquê. Na época o principal corpo hídrico da freguesia, inclusive de queixas à inspetoria policial pela falta de vigilância por ser o principal ponto de contrabando dos “pretos Africanos”.

Vale observar que naquela época a região já era conhecida como ilha de Guaratiba, devido aos seus córregos e riachos que circundavam a região. O que nada tem haver com essa idiotice que encontramos em diversos sites, inclusive no da Secretaria de Turismo do Município e em livros espalhados que relatam que a população não sabia pronunciar o nome de um dito fazendeiro de nome William, ora inglês ora escocês.  O que na verdade não existiu na Região.

E como não havia uma ponte para facilitar a travessia do escoamento da produção do 1º distrito para o 2º distrito, pois o escoamento dava-se pelo porto da ilha de Guaratiba. Os negociantes, produtores e eleitores organizaram um abaixo assinado para ser entregue ao Juiz de Paz,  com o objetivo da  construção de uma ponte para integrar os dois distritos. Os distritos eram separados pelo Rio Cabuçu, esse que fica atrás da fábrica de pneus Michelin que se denomina instalada em Campo Grande quando sabemos que esta e sempre esteve em Guaratiba.
Em 1877 a produção era tamanha que fora determinado por Edital Público pela  “Diretoria das Obras Municipaes da Corte” onde foram examinados nove (9) pretendentes para a Construção da Estrada da Grota Funda. Tendo a proposta do Senhor Carlos de Magalhães de Mello como aceita vencedora por garantir além da construção da estrada, a construção de duas pontes em arcaria de tijolos e encontro de pedras de cantaria, seis (6) pontilhões e a manutenção por mais quatro anos da estrada por despesas suas. Tudo num valor de 80.000$000es (oitenta Contos de Reis).
Algo próximo hoje, a grosso modo, de 5 milhões de reais. Tudo com o objetivo de facilitar o escoamento da produção do outro lado da Serra pelo Porto da Ilha.

No início do Século XX começa a construção da Estrada da Barra de Guaratiba no molde atual,  a pedido de Antônio Pantaleão de Melo, comerciante e presidente da Junta Eleitoral de  Guaratiba - 1893 a 1920 -, ao então presidente Nilo Peçanha, que se hospedava em uma de suas residências. A obra só foi concluída no Governo de  Hermes da Fonseca, nome que dera a um de seus filhos em homenagem ao então Presidente.

Em 1918, O Decreto nº 1185, de 5 de Janeiro fixou em três zonas a estrutura metropolitana da cidade: urbana, suburbana e rural. A divisão das três zonas em distritos legais e a definição de suas funções possibilitou a implantação da primeira lei urbanística objetiva na cidade do Rio de Janeiro. Portanto, a década de 1920, torna-se um período de consolidação da região de Guaratiba como zona rural. E assim surgiu a Fazenda Modelo como promulgadora da atividade agrícola na Região.

Esses exemplos supracitados são apenas para lembra de que forma a Região foi se desenhando sem uma planificação urbana.

Hoje estamos diante de grandes transformações e estamos parados, embasbacados com tanta obra nunca visto em um mesmo local. O que não percebemos é que os Impactos das obras na Região mudará para sempre o cotidiano diário de todos nós moradores e amantes de Guaratiba. Nem sempre o cimento e o concreto é a melhor solução! Afinal os alimentos não proliferam em prateleiras e estacas de concreto. A capitação mais eficaz de carbono ainda é feita por vegetais e não há nada melhor que uma boa sombra de uma frondosa árvore.

Não aconteceu nenhuma reunião para se discutir os seus impactos, A legislação foi colocada de baixo dos interesses imobiliários, a especulação imobiliária determina o quê e como a Câmara Municipal deve votar.  Temos o Estatuto das Cidades;  temos uma Lei de consórcios públicos votada em 2005, temos o Conselho da Cidades, Conselhos Técnicos, Um Instrumento institucional novo, valiosíssimo, mas a sociedade e principalmente a comunidade política e até jurídica, passam por cima. Agem como se ela não existisse.

Foram aprovados loteamentos em áreas de preservação permanente; loteamento para mais de 12.000 unidades. Só no ano retrasado foram aprovados mais de 2.000 unidades habitacionais em nossa região. As nossas florestas estão sendo derrubadas para darem lugar aos condomínios luxuosos é só olharem para o maciço da Pedra Branca (tanto pela Ilha como por Barra de Guaratiba); o Morro do Cabuçu; a Serra do Cantagalo e do Chacrinha. Nossos rios estão sendo fechados como cadáveres guardados em caixões. Depois querem se queixar das enchentes. Tapar córrego é estar criando um problema para um outro lugar.

Uma agressão jamais vista e aceitável por qualquer estudioso e cidadão de senso comum nos dias atuais!

O fato é que estamos perdendo a única oportunidade de realizar em Guaratiba uma política pioneira e exemplar no Brasil a de tornar Guaratiba na Região ECOLÓGICA da Cidade do Rio de Janeiro. Um modelo que poderia ser proposto aos participantes dos congressos e  cimeiras  ambientais mundo a fora.

 Alexandre Pantaleão - Sociólogo e Diretor de Assuntos Institucionais do CEPAG e

Fernanda Zine Diniz - Geógrafa e Professora
Postagem anterior
Próximo post

Post escrito por:

0 comentários:

Sua opinião sobre o assunto e seus comentários são importantes para o aperfeiçoamento de nosso trabalho e a perfeita visão do que acontece em nossa Zona Oeste.

Junte-se a nós