quinta-feira, 20 de julho de 2017

Professora de escola em Padre Miguel trabalha diversidade dos tons de pele

A professora de Artes Fernanda Dutra da Escola Municipal Roberto Simonsen, em Padre Miguel, iniciou o projeto "Tons de Pele", que teve como inspiração o projeto Humanae, da fotógrafa Angélica Dass ao qual pesquisa tonalidades de pele de forma autoral nos seus trabalhos fotográficos.


Angélica já fotografou, em 13 países, mais de três mil pessoas com o objetivo de catalogar todas as cores dos seres humanos.

A partir da observação que pessoas são únicas, de cores únicas e de características únicas. A profª Fernanda Dutra começou a questionar esta representatividade tão homogênea, apesar da grande diversidade humana.

Em suas aulas de arte, ela podia perceber que os alunos sempre se representavam com a cor de pele no tom bege rosado e também, muitas vezes, de olhos claros.


A pesquisa sobre o projeto começou, quando a professora Fernanda Dutra, na tentativa de responder a questão da representatividade homogênea da pele, verificou que até mesmo em marcas consagradas de materiais escolares (tintas, lápis e massinhas de modelar) a cor de pele é sempre associada ao tom da tinta "amarelo pele" que lembra um bege rosado. Nenhuma outra é associada à cor de pele.

— Quando procuramos uma indicação em um tutorial de desenho, pintura ou artesanato, fala-se com muita naturalidade para usar a cor "amarelo pele". Como se todas as peles fossem de uma só cor. Parte-se do princípio que pele é sempre bege — enfatizou Fernanda.

Desta forma, foi escolhido pela profª de Artes o trabalho desenvolvido por Angélica Dass, para assim, melhor ilustrar a diversidade das tonalidades de pele em sala de aula.

Angélica nasceu em Padre Miguel, bem próximo à unidade escolar e mora em Madri há mais de dez anos.

A professora explicou que escolheu a fotógrafa como inspiradora do projeto por se tratar de uma pessoa bem próxima da realidade dos estudantes que hoje faz um trabalho questionando a falta de representação da variedade de tons da pele humana.


— Ela contou que sofria preconceito na escola quando era criança e não se via representada nas aulas de desenho — contou Fernanda.

A primeira proposta apresentada aos alunos das duas turmas do 9º ano da escola foi a de cada um fazer um autorretrato. Com caixas de lápis de cores e um espelho no centro da sala, cada aluno foi fazendo o seu próprio desenho.

— Mesmo em frente ao espelho, automaticamente eles pegavam o lápis rosado, cor de tom de pele que em nossa escola não representa os alunos. Aqui temos uma variedade imensa de tonalidades. Mas eles realmente achavam que as pessoas ou são rosadas ou são beges. Foi quando comecei a questioná-los se a tonalidade estava representando suas cores — revelou.

Os estudantes também realizaram trabalhos de misturar massinhas para encontrar diferentes tonalidades de cor e colagens para compor as figuras humanas. Por conta dos trabalhos, a questão da falta de representatividade das reais cores de suas peles começou a chamar atenção.  A professora lembrou que uma aluna até questionou a falta de negros nas publicações e nos principais programas de televisão exibidos aos fins de semana.

O ápice do projeto foi um ensaio fotográfico feito na escola, onde os alunos e professores ficaram livres para se colorirem do jeito que queriam. O objetivo era mostrar que a cor "amarelo pele" oferecida pelas principais marcas de lápis e tintas não representava o tom de pele da maioria dos estudantes. 


Após a produção das fotos, cada aluno deu um nome a sua cor, cada criança foi associando sua tonalidade a alguma coisa já existente, como por exemplo, bebida e comidas: café com leite, chocolate branco, amendoim, paçoca, doce de leite, entre muitas outras. O desdobramento do trabalho foi pedir aos estudantes que observassem o seu entorno e fizessem entrevistas com familiares e amigos, pedindo que definissem sua cor de pele.

O ensaio fotográfico se desdobrou em um trabalho educacional. Os alunos passaram a perceber que, além de múltiplos tons de pele, também há vários tipos de nariz, sobrancelhas, olhos, cabelos e bocas, entre tantas outras características mais diversas ainda, o que torna cada um deles único.

O projeto está fazendo tanto sucesso que outras turmas da escola já pedem para participar. A fotógrafa Angélica Dass, que inspirou a professora Fernanda, promete conhecer o projeto de perto da próxima vez que vier ao Brasil.

Fotos: Hélio Melo
Fonte: Prefeitura do Rio
Adaptações: Portal ZOTDB

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