Policiais
da Core participaram de operação na Favela do Rola. Imagens mostraram
dois corpos sendo removidos pelos agentes do local do crime
Pelo
menos duas armas foram usadas irregularmente pela Polícia Civil na
operação na Favela do Rola, em Santa Cruz, onde imagens obtidas pelo
EXTRA mostraram dois corpos sendo removidos do local do crime. Além da
metralhadora MAG 7.62, emprestada pela Polícia Federal aos atiradores do
Serviço Aeropolicial (SAer), os agentes também usaram um dos 29 fuzis
cedidos pela Polícia Militar num convênio de empréstimo gratuito,
assinado em outubro de 2009. O problema é que o contrato expirou em 5 de
junho do ano passado. E o fuzil da PM foi usado irregularmente pela
Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) em 16 de agosto de 2012 —
dois meses após o fim da parceria. As armas só foram devolvidas à PM em
fevereiro deste ano.
Em
ofício assinado em 22 de maio, o delegado Fernando Veloso, subchefe
operacional da Polícia Civil, solicitou à PM o fuzil usado pela Core no
Rola, para perícia feita pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli
(ICCE). Segundo a PM, a arma ainda não foi devolvida.
O
piloto policial Adonis Lopes de Oliveira, que era comandante do SAer
durante a operação na Favela do Rola, confirmou o uso da MAG 7.62 na
ocasião. Em depoimento registrado pela Coinpol em 27 de maio, ele disse
que a arma foi emprestada pela Polícia Federal. Entretanto, a
informação não foi confirmada oficialmente pela Polícia Civil. Em
coletiva dada uma semana após a divulgação do vídeo, o delegado
Fernando Veloso negou o uso da metralhadora.
A
perícia faz parte da investigação da Corregedoria Interna da Polícia
Civil (Coinpol), que só começou a apurar o caso em 13 de maio — dois
dias após o EXTRA divulgar as imagens que mostram policiais carregando
um corpo por 70 metros até um bar na favela.
Polícia Civil responde
Em
nota, a Polícia Civil atribui o atraso de oito meses para a entrega
dos 29 fuzis emprestados pela Polícia Militar à tentativa de
localização das armas. Confira a resposta, na íntegra:
“Em
outubro de 2009, a Polícia Civil e a Polícia Militar assinaram um
convênio, no qual a PM cedia de forma gratuita à Polícia Civil fuzis.
No ano passado, o convênio expirou, e após estudo sobre o número de
fuzis em cada delegacia, a Polícia Civil entendeu que não seria mais
necessário o empréstimo. Após a decisão, o período foi necessário para
que as armas fossem recolhidas das delegacias onde estavam sendo
empregadas e devolvidas à Polícia Militar, em fevereiro deste ano.
A
Corregedoria Interna da Polícia Civil solicitou que o fuzil AJA 04410,
fosse recolhido e encaminhado à perícia, bem como todas as armas
utilizadas pelos policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE)
na Comunidade do Rola, em 16 de agosto do ano passado”.
Defensoria acompanha
Os
parentes de Ewerton Luiz da Cruz Neves e Douglas Vinicius da Silva não
presenciaram a exumação feita nos corpos deles, na última
quarta-feira. Mas o trabalho conduzido pela Coinpol foi acompanhado
pelo defensor público Eduardo Newton, do núcleo de direitos humanos.
—
Vamos verificar de quem é a responsabilidade e em que contexto
ocorreram essas mortes. Se um dos mortos foi atingido por um tiro nas
costas, não dá para trabalhar com a hipótese de legítima defesa.
Precisamos saber se houve violação dos direitos humanos — explicou.
O
objetivo do núcleo é acompanhar de perto as investigações da
corregedoria e oferecer assistência aos parentes dos cinco mortos na
operação policial na Favela do Rola. Em 22 de maio, a Coinpol enviou
ofício à Defensoria com os contatos dos parentes, que estão sendo
ouvidos pelo núcleo.
Em
27 de maio, o núcleo ouviu a mãe e a irmã de Adalberto Santos da
Silva, um dos mortos no Rola. Os depoimentos foram anexados ao
inquérito conduzido pela corregedoria.
—
Ainda estamos tentando localizar parentes das vítimas para dar toda a
assistência que eles precisam — disse o defensor público Eduardo
Newton.
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