As marcas de tiros na fachada do bar para onde os corpos foram levados
O
Ministério Público (MP) fez um questionamento à Corregedoria Interna
da Polícia Civil (Coinpol) que segue sem resposta: por que os policiais
não arrecadaram estojos de projéteis no bar onde relatam ter ocorrido
um intenso tiroteio na Favela do Rola, em Santa Cruz? De acordo com o
documento, assinado pelo promotor Luiz Antonio Ayres em 13 de maio, a
arrecadação “materializaria a injusta agressão que afirmam terem
sofrido, já que o laudo não faz menção à arrecadação de estojos
deflagrados”. O pedido foi encaminhado pelo MP dois dias após a
divulgação feita pelo EXTRA do vídeo que mostrou policiais removendo
dois corpos numa operação na favela, em 16 de agosto do ano passado.
Marcas de tiros também no asfalto, perto do bar
Em
depoimento dado há duas semanas na Coinpol, o agente Maxwell Gomes
Pereira, do Serviço Aeropolicial (SAer), disse que três dos cinco
homens mortos na operação estavam no bar e “foram baleados em
confronto” com a equipe terrestre da Coordenadoria de Recursos Especiais
(Core). As imagens mostram os outros dois mortos sendo arrastados
pelos policiais até o bar.
Maxwell
é o policial que aparece no vídeo quando os agentes encontram o corpo
de um homem na varanda de uma casa. Em depoimento, disse que a equipe
era alvo de disparos no trajeto, embora o vídeo mostre um outro
cenário. Os policiais agiam com naturalidade e não havia traficantes
atirando.
Desarmado e morto
“Ele
tá com arma?”, pergunta o policial Carlos Alexandre Santos, também do
SAer. Maxwell balança a cabeça, em sinal negativo. “Tem que fazer uma
montagem rápida, irmão”, disse outro agente, antes de o corpo ser levado
ao bar. Apesar de o vídeo mostrar claramente que Maxwell respondeu à
pergunta feita pelo colega, o agente disse que “balançou negativamente
porque não sabia o que dizer”.
Maxwell
confirmou que não viu arma no local. Mas disse que, em seguida, ficou
sabendo que o policial Jair Correa Ribeiro, da Core, havia arrecadado
uma pistola com o homem.
Ex-comandante confirma uso de MAG
O
piloto Adonis Lopes de Oliveira, comandante do SAer na época da
operação na Favela do Rola, confirmou, em depoimento dado à Coinpol, que
a metralhadora MAG 7.62 foi utilizada na ação. Segundo ele, o
equipamento foi emprestado pela Polícia Federal. Adonis disse, ainda,
que o Comando Militar do Leste (CML) deu parecer favorável a um pedido
de aquisição da arma feito pela Polícia Civil. Segundo ele, a requisição
estaria sendo analisada pelo Exército brasileiro.
Ainda
de acordo com o depoimento dado por Adonis, a arma foi usada na Favela
do Rola apenas em tiros de contenção no asfalto, para impedir o
deslocamento de traficantes pela comunidade. E teria como objetivo
garantir a segurança da aeronave. Após a operação, imagens mostram os
buracos no asfalto na Favela do Rola, possivelmente provocados pela
arma.
A
metralhadora também foi utilizada na operação feita pelo SAer em abril
do ano passado na Favela da Coreia, em Senador Camará, que resultou na
morte de Márcio José Sabino Pereira, o Matemático, o traficante mais
procurado do Rio na época.
Em
entrevista coletiva dada uma semana após a divulgação do vídeo, o
subchefe operacional da Polícia Civil, delegado Fernando Veloso, negou o
uso da MAG. “Nas imagens do jornal, apareciam dois fuzis 7.62 e não
uma MAG”, disse, na ocasião. Em nota, a Polícia Civil afirmou que só
irá se manifestar sobre o caso após o término das investigações.
Falhas na operação
Além da falta de recolhimento dos cartuchos, o MP tem outros questionamento a respeito das falhas na operação na Favela do Rola.
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Nome do irmão - O MP quer esclarecer por qual motivo o nome de Jonatan
Elison Reinaldo da Silva foi citado em ocorrência registrada na 36ª DP
(Santa Cruz). Conhecido como Tim,
Jonatan era irmão de Douglas Vinicius da Silva, que estava entre os cinco mortos na operação.
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Pedido de exumação - A Coinpol enviou à Justiça, na última
quarta-feira, um pedido de exumação nos corpos de Ewerton Luiz da Cruz
Neves e Douglas Vinicius da Silva, dois dos cinco homens mortos na
Favela do Rola. O pedido, que recebeu o parecer favorável do MP, deve
ser apreciado pela 1ª Vara Criminal da Capital a partir da próxima
terça-feira.
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Sem aparelho - O pedido de exumação foi feito porque houve uma falha
na época em que foi feito o exame de necrópsia. No laudo, assinado pela
legista Áurea Torres, não foi possível localizar projéteis porque o
aparelho de raios X não estava em funcionamento.
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Demora por socorro - Após a operação, os policiais levaram mais de
duas horas para levar os mortos ao Hospital estadual Rocha Faria, em
Campo Grande, a 21 quilômetros do Rola.
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Primeiro caso - As imagens do auto de resistência forjado no Rola são
as primeiras investigadas pela Coinpol desde portaria de 2011, que
estipula normas de procedimento.
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