sábado, 4 de maio de 2013

Fazenda Imperial de Santa cruz



    1- Origem do Nome
     Vamos encontrar referências escritas a respeito do nome do bairro na obra rara intitulada "História da Imperial fazenda de Santa cruz", de autoria de José de Saldanha da Gama, publicada pelo Instituto Histórico e geográfico Brasileiro no tomo 38 da sua Revista, do quarto trimestre de 1860. Saldanha da Gama, que foi um dos superintendentes da fazenda, lembra que os jesuítas colocaram uma grande cruz de madeira, pintada de preto, encaixada em uma base de pedra sustentada por um pilar de granito. Mais tarde, já durante o Império, o cruzeiro seria substituído por outro de dimensões menores. Atualmente existe uma cruz no mesmo local, mas não é o cruzeiro histórico, e sim uma réplica que foi erigida durante o comando do então Coronel Carlos Patrício Freitas Pereira, hoje general-de-divisão do Exército Brasileiro. O cruzeiro deu nome à Santa Cruz, e em volta dele festejava-se, no mês de maio de cada ano, o "Dia da Sagração da Santa cruz", com a participação da população local, inclusive dos escravos. A festa possuía o seu lado sagrado e o seu lado profano. Havia missas, bênçãos, ladainhas, reza do terço e procissão. À noite, no grande terreno em frente à igreja dos padres jesuítas, era a vez dos escravos se divertirem. Como não havia luz elétrica naquela época, eles usavam lampiões e centenas de archotes espalhados em toda a área. Ali cantavam e dançavam, comemorando a festa religiosa do dia.

2- Início do Povoamento
Santa Cruz começou a ser povoada em meados do século XVI. As terras faziam parte da antiga sesmaria de guaratiba, que foi desmembrada em nome de Martim Afonso de Souza, no dia 16 de janeiro de 1567, para contemplar Cristóvão Monteiro, que se considerou merecedor das terras por ter ajudado na fundação da cidade do Rio de Janeiro, combatendo contra índios e franceses. Cristóvão Monteiro, que mais tarde seria ouvido-mor da Câmara do Rio de Janeiro, instala-se na região como o primeiro proprietário português das terras que tornariam a famosa Fazenda de Santa Cruz. Logo mandou construir um engenho e uma capela no local conhecido como "Curral Falso". Com a morte de Monteiro as terras são herdadas por Dona Marquesa Ferreira, sua viúva e por Catarina Monteiro, sua filha. Em dezembro de 1589, a parte que coube à Dona Marquesa passa a pertencer aos jesuítas mediante uma doação inter-vivos, como esmola aos padres de Santo Inácio, com um pedido especial de intercessão pelas almas do finado Cristóvão e da Própria Dona Marquesa. No ano seguinte, 1590, os padres conseguiam obter a parte de Catarina Monteiro, trocando por outras propriedades em Bertioga, no caminho de São Vicente, São Paulo. Este foi o início do povoamento de Santa Cruz, que começou com Cristóvão Monteiro e foi se consolidando com a efetiva ocupação do território pelos padres jesuítas, que expandiram a área da sesmaria adquirindo terras vizinhas até alcançar dez léguas quadradas. A fazenda ia de Sepetiba até Vassouras, abrangendo também o atual Município de Itaguaí.

3- Ponte dos Jesuítas
                                                (A ponte)

     A ponte foi construída sobre o rio Guandu e funcionava como uma ponte-represa, dotada de um sistema de comportas que podiam ser manejadas para o controle do fluxo das águas, principalmente nos períodos das chuvas mais intensas. Logo após a drenagem do excesso de água plantava-se o arroz nos campos para aproveitar a fertilidade do solo deixada pelos húmus. Enquanto o arroz crescia, os pastos eram preparados nos pontos mais altos e secos, onde se distribuía o gado. Santa Cruz chegou a alcançar 13 mil cabeças de gado distribuídas em 22 currais, todos cercados.
  A ponte, que fazia parte de um complexo sistema de drenagem, irrigação e barragem das águas do rio Guandu, alem da sua importância econômica para Santa Cruz, possui também um significado artístico, pois é ornamentada por colunas de granito com capitéis em forma de pinhas portuguesas, tendo na parte central, uma espécie de brasão com o símbolo da Companhia de Jesus (IHS), a data de 1752 e o seguinte dístico em latim clássico: "Flecte genu tanto sub nomine flecte viator". "Hic etiam reflua flectitur amnis acqua". ( "Dobra o teu joelho diante de tão grande nome , dobra-o viajante. Porque também aqui refluindo as águas, se dobra o rio".)

4- A chegada da Família Real
     Com a expulsão dos padres jesuítas em 1759, todas suas propriedades foram confiscadas pelo governo português. Assim, com a chegada da Família Real em 1808, Santa Cruz passou a ser uma residência opcional da realeza de Orleans e Braganças. Muitas obras de melhoramentos foram executadas. O antigo convento dos padres foi reformado e adaptado para funcionar como palácio. A estrada que ligava a Fazenda a São Cristóvão foi melhorada e até mesmo uma linha de diligências passou a entrar em funcionamento. Neste período Santa Cruz recebeu a visita de vários viajantes europeus, como o pintores , botânicos, comerciantes, e mineralogistas, entre os quais podemos citar Langsdorff, Debret, Ender Pohl, Martius, Hidelbrandt, etc. Após a proclamação da independência, a Fazenda recebeu novos melhoramentos, passando a chamar-se Fazenda Imperial de Santa Cruz.

5- O matadouro de Santa Cruz
     Em 1881 foi inaugurado o Matadouro, e a região passou a se destacada como um importante centro irradiador do desenvolvimento sócio-econômico cultural e político do Rio de Janeiro. Em 1886 o segundo andar do Palacete do Matadouro foi adaptado para funcionar como escola, sob a denominação de Escola de Santa Isabel, como uma forma de prestar homenagem à Princesa Isabel. A escola funcionou até meados da década de 1970 sob várias denominações, até que o prédio fosse desativado, tombado pelo Patrimônio Histórico e destinado a ser restaurado e transformado em Centro Cultural de Santa Cruz. 

Fonte:
Texto de Sinvaldo do Nascimento Souza, professor de História e Museólogo, compilado por Gutemberg Castro
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