sábado, 4 de maio de 2013

Conheça um pouco da história do bairro de Campo Grande

Mato Alto

Inicialmente, a extensão de terras que vai do Rio da Prata até Cabuçu, que hoje corresponde à Região Campo Grande, era habitada por índios Picinguaba. Após a fundação da Cidade, em 1565, esse território passou a pertencer à grande Sesmaria de Irajá. Desmembrada desta em 1673, a área foi doada pelo governo colonial a Barcelos Domingues e, no mesmo ano, foi criada a Paróquia de N. Sa. do Desterro, marco histórico da ocupação territorial da Região. Antes de a Freguesia Rural de Campo Grande começar a prosperar, sua ocupação foi influenciada pela antiga fazenda dos jesuítas, em Santa Cruz. Inicialmente desenvolveu-se na Região o cultivo da cana-de-açúcar e a criação de gado bovino. O trabalho dos jesuítas foi de extrema importância para o desenvolvimento do Rio de Janeiro. Além das obras de engenharia que realizaram, como a abertura de canais e a construção de diques e pontes para a regularização do rio Guandu, o escoamento dos produtos da Fazenda Santa Cruz, oriundos do cultivo da cana-de-açúcar e da produção de carne bovina, era feito através da Estrada da Fazenda dos Jesuítas, posteriormente Estrada Real da Fazenda de Santa Cruz, que ia até São Cristóvão e se interligava com outros caminhos e vias fluviais que chegavam até o centro da Cidade.

     Do final do século XVI até meados do XVIII, a ocupação territorial da Região foi lenta, apesar do intenso trabalho dos jesuítas, encerrado quando foram expulsos do País pelo Marquês de Pombal, em 1759. Para avaliar sua importância econômica, no ano da expropriação de suas terras, em Santa Cruz, os padres possuíam 22 currais com aproximadamente oito mil cabeças de gado e 1.200 cavalos. Os religiosos deixaram obras de engenharia de vulto como estradas, pontes e inúmeros canais de captação de água para irrigação, drenagem e contenção da planície, sempre sujeita às enchentes dos rios Guandu e Itaguaí.

     Entre 1760 e 1770, na antiga Fazenda do Mendanha, o padre Antônio Couto da Fonseca plantou as primeiras mudas de café, que floresceram de forma extraordinária, com mudas originárias das plantadas em 1744 no convento dos padres barbadinhos. Os historiadores apontam a partir daí o desenvolvimento que a cultura cafeeira teve em todo o Estado no século XIX, espalhando-se pelo Vale do Paraíba aos contrafortes da Serra do Mar, atingindo, em sua expansão, a província de Minas Gerais.

     Como a Região era uma área nitidamente rural, os aglomerados humanos formados durante quase três séculos ficaram restritos às proximidades das fazendas e engenhos e às pequenas vilas de pescadores, ao longo da costa. Já no final do século XVIII, a Freguesia de Campo Grande começou a prosperar.

     Seu desenvolvimento urbano ocorreu a partir do núcleo formado no entorno da Igreja de N. Sa. do Desterro, cuja atração era a oferta de água do poço que existia perto da igreja. Em Campo Grande, a exemplo do que ocorreu em toda a Cidade, o abastecimento público de água foi um fator de atração e desenvolvimento. Foi tão importante para a Região que se firmou um acordo garantindo a venda, pelo povoado de Campo Grande para o de Santa Cruz, das cachoeiras dos rios do Prata e Mendanha, com a condição de que as águas continuassem a abastecer o bairro.

     Durante todo o século XVIII a ocupação territorial mais efetiva ocorreu em Santa Cruz, por causa do engenho dos jesuítas, e nas proximidades do centro de Campo Grande, cujas terras compreendem hoje as regiões de Bangu e Jacarepaguá. Essas terras eram atravessadas pela Estrada dos Jesuítas, mais tarde Estrada Real de Santa Cruz - que ia até São Cristóvão - e pelas vias hidrográficas da extensa Freguesia de Irajá. Toda a área, na verdade, era uma única região, um imenso sertão pontilhado por alguns núcleos nos pontos de encontro das vias de acesso, em torno dos engenhos e nos pequenos portos fluviais.

     A fazenda dos jesuítas era tão importante para o governo colonial que suas terras não foram postas em leilão, após a expropriação, tendo sido incorporadas ao patrimônio oficial e depois transformadas por D. João VI em Fazenda Real de Santa Cruz, após a transferência da corte portuguesa para o Brasil, em 1808. Com a chegada da comitiva real, a cidade do Rio de Janeiro modificou-se muito e todas as regiões tipicamente rurais sofreram sua influência. As atividades econômicas e culturais aceleraram-se e a zona rural voltou-se para o abastecimento da Cidade e para os benefícios trazidos pela corte. Não houve, porém, uma aceleração do desenvolvimento da Região, que continuou a manter suas características rurais.
  A partir da segunda metade do século XIX, a área começou a se adensar com a implantação, em 1878, de uma estação da Estrada de Ferro D. Pedro II, em Campo Grande. O transporte ferroviário foi, então, o vetor que transformou esta região tipicamente rural em urbana, ao facilitar o acesso - e, conseqüentemente, seu povoamento - ao centro da Cidade. A partir de então a comunicação tornou-se mais rápida para o centro da cidade e a região começou sua marcha rumo ao vertiginoso desenvolvimento. Em 1894, a empresa particular Companhia de Carris Urbanos ganhou a concessão para explorar a linha de bondes à tração animal, possibilitando que as localidades mais distantes da Região fossem alcançadas, o que favoreceu o seu desenvolvimento urbano interno.

    A partir de 1915, os bondes à tração animal foram substituídos pelos elétricos, permitindo maior mobilidade e integração entre os núcleos semi-urbanos já formados. Este evento acentuou o adensamento do bairro central de Campo Grande e estimulou o florescimento de um intenso comércio interno, de certa forma, independente. O bairro que, historicamente, já era o ponto de atração do crescimento da Região tornava-se agora sua mola propulsora, adquirindo características tipicamente urbanas.

     Com as crises da cultura do café, iniciadas no final do século XIX e persistindo no século seguinte, durante a Primeira Guerra Mundial, até culminarem com a depressão que se seguiu ao colapso de Wall Street, em 1929, com suas conseqüências no comércio internacional estendendo-se à cotação do café, a Região voltou-se para uma nova atividade, a citricultura. Desde os primeiros anos do século XX e até os anos 40, Campo Grande foi considerada a grande região produtora de laranjas, o que lhe rendeu o nome de "Citrolândia".     

      Desde a segunda metade do século XIX já se configurava no País uma estrutura econômica voltada para o setor industrial, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas essa estrutura era extremamente dependente do modelo agrário-exportador da economia, além de afetada por outros fatores, como a inexistência de fontes de energia, o baixo nível de qualificação e recrutamento de mão-de-obra local e a concorrência dos produtos industrializados estrangeiros. Apesar desses entraves, até o início do século XX, uma forte atividade industrial - voltada para a fabricação de tecidos, calçados, mobiliário, bebidas, etc. - concentrava-se no Centro do Rio. Embora desde o começo do século XX a Região Campo Grande - até hoje zona de plantio, principalmente de coco, chuchu, aipim, batata doce e frutas - ainda fosse voltada para a plantação de laranjas, nessa época já se delineava a vocação industrial do lugar. Na última década do século XIX, a instalação da Fábrica Bangu e a implantação de unidades militares em Bangu e Realengo afetaram toda a Região, inclusive Campo Grande.

 Fonte:
    - ABREU, Mauricio de A, Evolução Urbana do Rio de Janeiro, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, SMU/IPLANRIO, 3° Edição, 1997
    - LESSA, Carlos, O Rio de Todos os Brasis, Editora Record, 2000
    - GERSON, Brasil, História das Ruas do Rio, Lacerda & Editores, 5° Edição, definitiva e remodelada, 2000     - Texto de Gutemberg Castro
Postagem anterior
Próximo post

Post escrito por:

0 comentários:

Sua opinião sobre o assunto e seus comentários são importantes para o aperfeiçoamento de nosso trabalho e a perfeita visão do que acontece em nossa Zona Oeste.

Junte-se a nós