quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O Largo do Bodegão e a tradicional festa de São Jorge

Bênção aos devotos de São Jorge, em cerimônia religiosa celebrada em frente à igreja do Santo, no Largo do Bodegão, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio.



Trecho do Largo do Bodegão no sentido da Rua Álvaro Alberto. O "bodegão" aparece em parte à esquerda da imagem, segundo reprodução do óleo sobre tela de autoria da artista plástica Onild'Aquino, 1985.
Amanhã, 23 de abril, é dia de São Jorge. Dizem que é o santo mais popular aqui na cidade do Rio de Janeiro e que tem mais devotos do que o padroeiro, São Sebastião.
Em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro, as comemorações tiveram início em princípios do mês de abril, com fogos de artifício pela manhã, missas, ladainhas e muitas pessoas reunidas na igrejinha do Largo do Bodegão.
Há também um palanque armado e muitas barraquinhas, além de um parque de diversões e dezenas de banheiros públicos à disposição dos visitantes que forem à festa de São Jorge.

 
O arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, na cerimônia religiosa realizada no Largo do Bodegão, em Santa Cruz, em abril de 2010. À esquerda a Escola Técnica FAETEC, onde funcionava o antigo Matadouro Público.

Segundo o historiador santacruzense Benedicto Freitas, o Largo do Bodegão é o mais conhecido logradouro do bairro e alcançou intensa repercussão fora de seus limites, pelos agitados acontecimentos nele registrados.
Bem em frente ao Largo do Bodegão ficava o Matadouro Público de Santa Cruz, inaugurado em 1881, pelo imperador Dom Pedro II, para substituir o outro existente nas imediações da Praça da Bandeira.
Hoje, as antigas dependências do Matadouro funcionam como Escola Técnica Estadual (FAETEC) e o palacete Princesa Isabel, que era a sua sede administrativa, como Centro Cultural da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Pelo Largo do Bodegão circulam diariamente milhares de alunos, durante todo o dia e boa parte da noite, pois em sua área de entorno, além da escola técnica citada, há o Colégio Estadual Barão do Rio Branco, a Escola Municipal Fernando de Azevedo, o CIEP Barão de Itararé, a Escola Municipal Prefeito João Carlos Vital, o Ginásio Carioca na Escola Municipal Princesa Isabel e o Colégio Delta, da rede privada. Também se encontram no mesmo quarteirão, a Vila Olímpica Oscar Schmidt, a antiga Vila Operária do Matadouro, a Biblioteca Popular Joaquim Nabuco e o Centro de Zoonoses da Prefeitura.
O historiador Benedicto Freitas cita o Largo do Bodegão em dois dos seus livros: “O Matadouro de Santa Cruz: cem anos a serviço de uma comunidade”, edição de 1977, e no 3º volume da obra “Santa Cruz, Fazenda Jesuítica, Real, Imperial”, edição de 1987, ambas publicadas por iniciativa própria do autor.
No livro de 1977, Benedicto Freitas inclui foto do “Bodegão” e anotou na legenda: “Aqui no local deste prédio existiu o “bodegão”, hoje é bilhar, bar e açougue.”


O "bodegão" em foto reproduzida do livro "O Matadouro de Santa Cruz: cem anos a serviço de uma comunidade", edição de 1977.



Ainda segundo o historiador, no Largo do Bodegão havia uma das mais movimentadas feiras públicas, onde se concentravam diariamente milhares de pessoas que iam à busca de mercadorias variadas, desde a farinha da roça, artigos manufaturados, miúdos de reses e ervas medicinais colhidas pelo próprio vendedor.


Construção de certa imponência no Largo do Bodegão, em Santa Cruz, que servia exclusivamente para a venda de miúdos bovinos, segundo o historiador Benedicto Freitas. Reprodução do livro "O Matadouro de Santa Cruz: cem anos a serviço de uma comunidade", edição de 1977.

A denominação popular de Largo do Bodegão, que chegou a ser mudada para “Praça Saldanha da Gama”, em 1916, mas que foi restabelecida no ano seguinte, pelo Decreto nº 1.165, de 31 de outubro, deve-se – explica o historiador Benedicto Freitas – à construção de uma casa comercial, que por seu tamanho, bem maior que as demais da vizinhança, passou a ser conhecida por “bodegão”, aumentativo de bodega, nome que recebiam as casas de rudimentar apresentação.
Não há referências do historiador santacruzense, nos seus livros, à tradicional festa de São Jorge, que vem sendo realizada há vários anos, nas últimas semanas do mês de abril.
Em pesquisa que desenvolvi a partir de 1983, quando tomei parte da fundação do Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz, o NOPH, ouvi inúmeros depoimentos orais de pessoas moradoras nas proximidades do Largo do Bodegão, afiançando que a procissão de São Jorge começou com alguns boiadeiros católicos, provenientes de Minas Gerais, na época de funcionamento do Matadouro.
Os boiadeiros vinham conduzindo as reses que seriam abatidas no Matadouro, quando ainda não se utilizava o transporte rodoviário nem ferroviário para tal fato. Como a boiada, após cumprir trajeto de longa jornada, chegava quase esquálida à Santa Cruz, havia obrigatoriamente, campos de invernada, com pastos de longa extensão, para que o gado pudesse descansar e engordar antes de seguir para o abate.
Os vaqueiros, que chegavam a cavalgar cerca de cinqüenta dias conduzindo a boiada, buscavam, portanto, motivos para sua permanência em Santa Cruz, tendo então originada a Festa de São Jorge do Largo do Bodegão.

Pintura de São Jorge, em 'outdoor', no Largo do Bodegão, no sentido Santa Cruz - Sepetiba.

Hoje, a procissão do Santo Guerreiro chega a reunir milhares de devotos que percorrem as principais ruas do bairro em suas montarias, de charrete, ou mesmo a pé.
Não há mais boiada, nem vaqueiros vindos de Alfenas, Passos, Campo Belo, São Sebastião do Paraíso, Santa Rita de Cássia, Três Corações do Rio Verde, nem de outras regiões pecuaristas mineiras, como descreve Benedicto Freitas. O Largo do Bodegão passou a ser mais conhecido na cidade do Rio de Janeiro pela tradicional festa de São Jorge, que já faz parte do calendário de eventos turísticos e religiosos.

Igreja de São Jorge, no Largo do Bodegão, esquina com a Avenida Isabel e Rua Álvaro Alberto, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, onde a população se concentra no dia 23 de abril para a celebração de missas e a tradicional procissão da imagem do Santo Guerreio.

Nos últimos anos, após o dia 23 de abril ter sido decretado feriado público municipal, todos os bairros onde há igrejas ou capelas em devoção ao Santo Guerreiro, vem realizando missas e procissões com grande repercussão nos meios de comunicação, e com a presença dos padres da capelania de São Jorge e até mesmo do arcebispo da cidade, Dom Orani Tempesta, que em 2010 participou de cinco cerimônias religiosas, entre missas, procissões e bênçãos, em um único dia, inclusive em Santa Cruz.

Sinvaldo do Nascimento Souza
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