terça-feira, 16 de julho de 2013

Professor de basquete une poesia e esporte em projeto social que forma leitores e atletas em Santa Cruz

O professor de basquete Wanderson Geremias, o WG (de branco) também ensina números de malabarismo com a bola aos alunos, como o de equlibrá-la na ponta da caneta
O professor de basquete Wanderson Geremias, o WG (de branco) também ensina números de malabarismo com a bola aos alunos, como o de equlibrá-la na ponta da caneta
De braços cruzados já não dava mais para ficar diante das cenas de violência nas comunidades de Santa Cruz. Por isso mesmo é que o produtor cultural Wanderson Luiz da Costa, o WG, rendeu 70 jovens com uma “arma” bem mais poderosa do que as usadas diariamente por bandidos locais. É o Cultura na Cesta, como batizou o projeto que deixa todo mundo de mãos ao alto, para jogar basquete, é claro, nas aulas onde os alunos também aprendem poesia.



— O projeto surgiu por necessidade. Eu levava as crianças para apresentações de malabarismos com a bola. Mas não queria ser o protagonista do show. Queria que elas fossem. Mas, quando começavam a falar no microfone, eu percebia que não sabiam nem formar palavras — conta.



Foi quando arremessou o basquete à poesia, unindo as disciplinas, em 2005. E, com isso, marcou vários pontos no conjunto Cesarão, também no bairro, onde o projeto acontece e recebe 70 alunos, com idades entre 7 e 16 anos.



É lá onde eles aprendem a manusear lápis e caneta aos sábados. Das 8h às 10h, para equilibrar a bola sobre a ponta dos objetos, e, sábado sim, sábado não, para escrever poesias em aulas que acontecem, das 10h às 11h30m, em um sala repleta de livros.



— Antes de trazer a poesia para as aulas de basquete, conversei com algumas diretoras de escolas daqui e elas disseram que o problema da formação de palavras não acabaria tão cedo por causa da aprovação automática. Mas, hoje, temos crianças leitoras, que sabem se expressar— comemora WG.


WG equlibra a bola até em livro

Lições de ortografia e dicção no projeto



As aulas conduzidas pelo professor de Educação Física WG levam as crianças e os jovens das comunidades do entorno do conjunto Cesarão ao “Ponto da Palavra”, como é chamado o projeto aplicado por duas professoras amigas do basquete — e também poetas —, que inspiram a turma desde 2009.



E assim, com aulas de leitura, ortografia, dicção e até de criação de poesias e de conhecimento sobre vida e obra de autores, garantem o bom desempenho, após as apresentações do time de basquete, quando declamam poesias e fazem agradecimentos. E são muitas, em festas de aniversário e até em empresas. WG conta que eles já estiveram no “Se vira nos 30”, do programa do Faustão, e no “Mais Você”, de Ana Maria Braga .



— O basquete dá um senso de grupo, de união, fazendo com que saibam enfrentar problemas. E eles chegam com muitos. Carência de pais e a violência são alguns — observa.

Com a bola e a caneta na mão: alunos do projeto também têm aulas de criação de poesias

Com a bola e a caneta na mão: alunos do projeto também têm aulas de criação de poesias



Menina já escreveu até livro de poesias



Uma das meninas que correu dos tiros na Favela do Rola, em Santa Cruz, foi a aluna do 7º ano do Ensino Fundamental Rafaela Nunes, de 15 anos. Cansada de tanta violência na comunidade, onde mora, ela rendeu-se ao esporte. E também à poesia.



— Já não me preocupo mais com os tiros. Antes eu ficava desesperada na minha casa, já perfurada por disparos. Mas, hoje, ocupo a cabeça com as aulas. Aqui me desenvolvo — observa.



E já se vão dois anos que ela parou de ouvir tiros e só escuta a voz da imaginação. Até escreveu um livro de poesias desde que chegou ao projeto. Algumas versam sobre saudade. Principalmente a que sente do irmão, morto aos 17 anos, após ter sido confundido com um bandido, ela conta.



— A poesia toca o coração e muda a pessoa. Até eu, estou bem mais calma do que era — afirma a jovem.

Rafaela (à direita) e os alunos na sala onde duas professoras ensinam poesia

Rafaela (à direita) e os alunos na sala onde duas professoras ensinam poesia

Alunos vêm de várias comunidades locais



Os alunos do projeto no Cesarão chegam de várias comunidades de Santa Cruz: Antares, Favela do Aço, Três Pontes e Rola I são só algumas. Do Rola II vem os irmãos Daian e Iosef Marcelino da Silva, de 11 e 13 anos, respectivamente. Um orgulho para a mãe, Rosangela Silva Marcelino, de 42 anos, cabeleireira.



— Eles souberam das aulas de basquete pelos colegas. E eu quis que viessem para cá. Ih, tá ouvindo os tiros? — pergunta Rosangela ao escutar os disparos vindos do Rola II, durante uma operação policial.



Cessado o susto, a mãe volta a destacar a preocupação com a educação dos filhos.



— Procuro não deixá-los dispersos. Prendo o tempo deles com atividades mesmo. Daian faz capoeira e também informática. Iosef faz futebol. E o meu filho de 15 anos faz curso de segurança do trabalho na Faetec de Santa Cruz — lista a mãe, cuidadosa.



Os filhos adoram. E não param quietos com a bola de basquete um minuto. Iosef, por exemplo, ensaia as jogadas de Michael Jordan, a quem admira.



— Aqui, sou feliz — diz



Os irmãos Iosef e Daian Marcelino da Silva: dedicação total ao projeto Cultura na Cesta

Fonte: Extra
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