O
professor de basquete Wanderson Geremias, o WG (de branco) também
ensina números de malabarismo com a bola aos alunos, como o de
equlibrá-la na ponta da caneta
De
braços cruzados já não dava mais para ficar diante das cenas de
violência nas comunidades de Santa Cruz. Por isso mesmo é que o produtor
cultural Wanderson Luiz da Costa, o WG, rendeu 70 jovens com uma
“arma” bem mais poderosa do que as usadas diariamente por bandidos
locais. É o Cultura na Cesta, como batizou o projeto que deixa todo
mundo de mãos ao alto, para jogar basquete, é claro, nas aulas onde os
alunos também aprendem poesia.
—
O projeto surgiu por necessidade. Eu levava as crianças para
apresentações de malabarismos com a bola. Mas não queria ser o
protagonista do show. Queria que elas fossem. Mas, quando começavam a
falar no microfone, eu percebia que não sabiam nem formar palavras —
conta.
Foi
quando arremessou o basquete à poesia, unindo as disciplinas, em 2005.
E, com isso, marcou vários pontos no conjunto Cesarão, também no
bairro, onde o projeto acontece e recebe 70 alunos, com idades entre 7 e
16 anos.
É
lá onde eles aprendem a manusear lápis e caneta aos sábados. Das 8h às
10h, para equilibrar a bola sobre a ponta dos objetos, e, sábado sim,
sábado não, para escrever poesias em aulas que acontecem, das 10h às
11h30m, em um sala repleta de livros.
—
Antes de trazer a poesia para as aulas de basquete, conversei com
algumas diretoras de escolas daqui e elas disseram que o problema da
formação de palavras não acabaria tão cedo por causa da aprovação
automática. Mas, hoje, temos crianças leitoras, que sabem se expressar—
comemora WG.
Lições de ortografia e dicção no projeto
As
aulas conduzidas pelo professor de Educação Física WG levam as
crianças e os jovens das comunidades do entorno do conjunto Cesarão ao
“Ponto da Palavra”, como é chamado o projeto aplicado por duas
professoras amigas do basquete — e também poetas —, que inspiram a
turma desde 2009.
E
assim, com aulas de leitura, ortografia, dicção e até de criação de
poesias e de conhecimento sobre vida e obra de autores, garantem o bom
desempenho, após as apresentações do time de basquete, quando declamam
poesias e fazem agradecimentos. E são muitas, em festas de aniversário e
até em empresas. WG conta que eles já estiveram no “Se vira nos 30”,
do programa do Faustão, e no “Mais Você”, de Ana Maria Braga .
—
O basquete dá um senso de grupo, de união, fazendo com que saibam
enfrentar problemas. E eles chegam com muitos. Carência de pais e a
violência são alguns — observa.
Com a bola e a caneta na mão: alunos do projeto também têm aulas de criação de poesias
Menina já escreveu até livro de poesias
Uma
das meninas que correu dos tiros na Favela do Rola, em Santa Cruz, foi
a aluna do 7º ano do Ensino Fundamental Rafaela Nunes, de 15 anos.
Cansada de tanta violência na comunidade, onde mora, ela rendeu-se ao
esporte. E também à poesia.
—
Já não me preocupo mais com os tiros. Antes eu ficava desesperada na
minha casa, já perfurada por disparos. Mas, hoje, ocupo a cabeça com as
aulas. Aqui me desenvolvo — observa.
E
já se vão dois anos que ela parou de ouvir tiros e só escuta a voz da
imaginação. Até escreveu um livro de poesias desde que chegou ao
projeto. Algumas versam sobre saudade. Principalmente a que sente do
irmão, morto aos 17 anos, após ter sido confundido com um bandido, ela
conta.
— A poesia toca o coração e muda a pessoa. Até eu, estou bem mais calma do que era — afirma a jovem.
Rafaela (à direita) e os alunos na sala onde duas professoras ensinam poesia
Alunos vêm de várias comunidades locais
Os
alunos do projeto no Cesarão chegam de várias comunidades de Santa
Cruz: Antares, Favela do Aço, Três Pontes e Rola I são só algumas. Do
Rola II vem os irmãos Daian e Iosef Marcelino da Silva, de 11 e 13 anos,
respectivamente. Um orgulho para a mãe, Rosangela Silva Marcelino, de
42 anos, cabeleireira.
—
Eles souberam das aulas de basquete pelos colegas. E eu quis que
viessem para cá. Ih, tá ouvindo os tiros? — pergunta Rosangela ao
escutar os disparos vindos do Rola II, durante uma operação policial.
Cessado o susto, a mãe volta a destacar a preocupação com a educação dos filhos.
—
Procuro não deixá-los dispersos. Prendo o tempo deles com atividades
mesmo. Daian faz capoeira e também informática. Iosef faz futebol. E o
meu filho de 15 anos faz curso de segurança do trabalho na Faetec de
Santa Cruz — lista a mãe, cuidadosa.
Os
filhos adoram. E não param quietos com a bola de basquete um minuto.
Iosef, por exemplo, ensaia as jogadas de Michael Jordan, a quem admira.
— Aqui, sou feliz — diz
Fonte: Extra
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