— As imagens são muito fortes, ainda que a gente saiba
que essas coisas acontecem dessa maneira com frequência no Brasil,
vê-las de forma tão nítida e clara é chocante, ainda mais se tratando da
elite da polícia do Rio e de policiais de que se espera uma postura e
uma forma de operar dentro da legalidade. Tudo o que a gente vê ali são
imagens que produzem vergonha cívica de ver a força policial de seu
estado atuando como gangues — criticou.
Segundo Roque, do ponto de vista de segurança pública, a
operação infringe várias normas, ao empregar armas pesadas e atacar
alvos sem ser atacado.
— O que mais choca é a frieza e a maneira
desrespeitosa e descuidada com que os polciais tratam os jovens mortos.
Parece que eles estão seguindo um protocolo, eles não vacilam, não há o
momento de espanto de quem acabou de matar uma pessoa desarmada. É
instantâneo, como se eles estivessem seguindo uma norma. Esse
comportamento é uma prática regular, uma operação pensada para matar,
não para prender — avaliou.
Roque lamentou ainda o que chamou de “procedimento padrão para esconder a cena do crime e falsear a morte”.
—
Isso me leva a pensar que hoje tem que ser perguntado ao governador
Sérgio Cabral, ao secretário José Mariano Beltrame e à chefe da Polícia
Civil, delegada Martha Rocha, afinal de contas, qual é a direção da
polícia: a barbárie ou a civilidade?
O diretor da Anistia Brasil criticou ainda o silêncio das autoridades.
—
O governador deveria estar na televisão sinalizando para a tropa que
isso é inaceitável. Sem fazer isso, o recado que fica é que isso é
correto. Ele e o Beltrame devem vir a público dizer o que está
acontecendo, dizer que aquilo é inaceitável como prática da força de
segurança. O silêncio do Cabral e do Beltrame faz parecer que isso é
certo. Se o Beltrame trata isso como mais do mesmo, significa que virou
rotina. Essa filmagem de agora choca pela atitude rotineira. Eles vão
ali para matar, foi conduzida com a intenção de eliminar essas pessoas,
fossem elas quem fossem. Nem o Bin Laden foi morto dessa maneira. Os
americanos pelo menos entraram na casa dele. Mesmo a guerra tem regras.
Nesse caso, isso seria levado para um tribunal internacional — comparou.
Aprofundamento da investigação
Stephanie Morin, pesquisadora para o Brasil da Human Rights Watch, defendeu um aprofundamento da investigação do episódio.
—
Esse vídeo é muito importante, espero que muitas pessoas lhe assistam e
cobrem uma investigação. O importante é que a ocorrência seja
investigada e as condutas, individualizadas — cobrou.
De acordo
com a pesquisadora, a regra geral é que a força letal só seja utilizada
por um agente do Estado para repelir uma ameaça à vida daquele policial
ou de outras pessoas em casos iminentes, e deve empregar meios
proporcionais.
Stephanie afirmou não haver indícios suficientes para se afirmar que se trata de um auto de resistência.
—
Não está claro se havia disparos contra o helicóptero, o que lança
dúvida se todas as mortes decorrentes dessa operação, as cinco mortes,
foram de fato resistência seguida de morte, o que no Rio se chama auto
de resistência.
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