domingo, 6 de maio de 2012

Professora de Santa Cruz busca alunos em casa e até marca médico para eles

Quem mais poderia levar as crianças de casa para a sala de aula bem na hora do expediente? E ainda brincar com elas no chão, ensiná-las as primeiras lições e até marcar consultas com o pediatra? No sub-bairro Guandu Velho, em Santa Cruz, só mesmo Sônia Maria de Sousa, a “tia” que ao abrir um centro de estudos tornou-se uma mãe para as crianças e até para os pais.
Dos 54 anos de vida, Tia Sônia dedicou 22 deles aos filhos (dos outros) no Centro de Estudos Alternativo, que abriu as portas no dia 19 de abril de 1992 para reforçar o aprendizado escolar de meninos e meninas da região.
- Eu me sinto mãe de todos. Vou eu mesma buscá-los em casa quando faltam. Como conhecem a minha voz, peço para uma criança chamar no portão até abrirem. Se a mãe está trabalhando e eles ficam em casa, eu me sinto como se estivesse ajudando a passar a perna na mãe deles - brinca Tia Sônia.
Na grade das tarefas extracurriculares também está a marcação de consultas (com o conhecimento dos pais, que levam os filhos ao médico). É que muitos responsáveis saem de casa para trabalhar às 5h e só voltam às 21h:
- Aqui é muito longe. Se a mãe perde um dia de faxina, perde R$ 80. E se a professora identifica que a criança tem dificuldades, pede para a mãe procurar um especialista. No posto, a pediatra indica um fonoaudiólogo, por exemplo. Nós só procuramos a vaga e marcamos a consulta.
É assim com os cerca de 100 alunos da casa azul e branca de dois andares, onde funciona o centro de estudos, que oferece até momentos de relaxamento.
- A gente faz massagem um no outro para sentir o toque, para humanizar. Isso faz com que eles se sintam amados - conta.
Segundo Tia Sônia, os pais que podem fazem “doações mensais” no valor que puderem pagar para ajudar na manutenção.
- Quem não pode não paga - conclui.
Espaço ensina alunos com dificuldades
As três salas de aula do Centro de Estudos Alternativo também comportam alunos que não aprendem, porque não conseguem entender o conteúdo das matérias ensinadas na escola. Segundo a tia Sônia, cerca de 32 deles têm dificuldade para assimilar as disciplinas. Outros chegam lá com problemas de fala, de surdez ou de gagueira.
- Para alguns a aula é de reforço. Mas para a grande maioria, somos nós que ensinamos porque na escola eles têm dificuldade de aprender - diz Sônia, re$se à equipe formada por Déborah Rodrigues, Carla Rodrigues, Thaianne Francelino, Rita da Silva, José Assis, Jorgina Bicalho e Aparecida.
Dona Lurdecy da Silva, de 62 anos, que é tia do aluno Márcio da Silva, de 10 anos, faz coro:
- Percebi algo quando pedia a Márcio para refazer o dever de casa e ele colocava respostas diferentes às perguntas. Entreguei nas mãs da Tia Sônia. Minhas duas netas já estudaram aqui. E só melhoraram - avalia.
Amigos do bairro e da Educação
O sonho de Sônia de Sousa de ser mãe é carioca, pois nasceu aqui, assim como os quatro filhas dela. O de ser professora é de Belém do Pará, onde, aos 15 anos, foi assistente no colégio de freiras onde estudou. Ela veio para o Rio, pois “achava que aqui era a capital da cultura”.
Sônia se formou professora em um colégio renomado da Zona Sul do Rio, fez especializações e até deu aulas particulares em Laranjeiras, Leblon e Ipanema. Mas foi com Santa Cruz que ela se identificou. E também com as amigas Tina, Selma, Cristina e Elielma, que a ajudaram a abrir o centro. Na época, dentro de casa.
- Aqui tem o que gosto: o trabalho comunitário e o envolvimento das pessoas - diz ela.

Fonte: Extra On-line
Postagem anterior
Próximo post

Post escrito por:

0 comentários:

Sua opinião sobre o assunto e seus comentários são importantes para o aperfeiçoamento de nosso trabalho e a perfeita visão do que acontece em nossa Zona Oeste.

Junte-se a nós