Nas
últimas semanas uma onda de boatos relacionados ao crime de estupro
tomou conta de Seropédica. Pelo menos quatro casos foram comentados. O
mais grave contava a história de uma menina de nove anos que teria sido
violentada e morta. Um grupo de pessoas chegou a se reunir para
sepultar o corpo da garota, que nunca existiu. Apesar de alguns casos
terem sido descartados, um homem foi preso nesta sexta-feira (30)
acusado de estuprar uma jovem de 27 anos no dia 3 de setembro. Aldenir
Nonato dos Santos, 35 anos, foi preso por policias da 48ª DP
(Seropédica) em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, 27 dias
depois de sequestrar Sirlene de Souza Bandeira no Centro de Seropédica.
De acordo com a vítima, a abordagem aconteceu por volta das 20h.
“Eu
saí de casa às 7h40, deixei minha filha de cinco anos com a minha mãe e
fui comprar leite. Assim que saí do mercado eu liguei para minha mãe
avisando que já estava subindo a rua. Quando eu desliguei o telefone,
ele me cercou com a porta do carona do carro aberta. Eu estava
caminhando na calçada quando ele abriu a porta e me mandou entrar no
carro dizendo que estava armado, e que se eu gritasse morreria ali
mesmo. Não tive reação nenhuma. Entrei no carro chorando e pedi que ele
não me matasse porque precisava cuidar da minha filha. Ele falou que se
eu ficasse quieta, não faria nada contra minha vida, mas se eu
começasse a gritar ele não se responsabilizaria pelos atos dele, porque
ele não estava acostumado a receber não”, relatou a vítima.
Segunda
ela, o criminoso ainda deu voltas de carro pela cidade até escolher o
local onde cometeria o crime. “Ele me pegou na entrada da rua do prédio
Lorenzon, depois passou pela Rua do Carmo, deu a volta pelo campinho
de areia e pegou a Avenida H. Depois passou pela Rua do Grêmio, passou
pela linha do trem e foi dentro do Mutirão até em frente a um posto de
saúde que tem lá. Depois ele passou em frente à maternidade e entrou na
rua detrás que estava deserta”, revela Sirlene.
O tarado teria mandado que a jovem fosse para o bando de trás do carro, quando cometeu o estupro.
“Ele
me mandava parar de chorar dizendo que eu estava desconcentrando ele.
Muitas pessoas me perguntaram por que eu não gritei. Será que se eu
tivesse gritado eu estaria viva agora? Quando terminou ele me mandou
colocar a roupa e passar para o banco da frente dizendo que não seria
tão ruim e me levaria de volta. Antes de me deixar ele disse: “Eu nem
sei por que estou fazendo isso com você, mas agora já fiz mesmo e não
adianta pedir desculpas, então vai embora”. Quando desci, ele passou na
minha frente e eu consegui gravar a placa do carro”, conta ela.
Traumatizada
e com medo, Sirlene ainda precisa tomar o coquitel anti-HIV,
medicamento determinado pelo Ministério da Saúde em casos de estupro, o
que lhe causa fortes dores abdominais. “Sinto como se meus órgãos
estivessem soltos dentro de mim, não consigo dormir de tanta dor. Mas o
pior é que quando fecho os olhos, só consigo ver o rosto daquele cara.
Ele tem sido um pesadelo na minha vida. Mas agora sabendo que ele está
preso fico bem mais aliviada”, comenta.
“Fiquei
muito triste quando soube que as pessoas estavam dizendo que o meu
caso é um boato. Chegaram a dizer que ele era um ex-namorado meu e que
eu estava me vingando. É um absurdo!”, finaliza a vítima.
Vereador colabora com as investigações
Depois que soube do caso, o vereador Valter da Silva Valeriote, o Valtinho do Frigodutra, decidiu acompanhar o caso.
“Nós
estávamos discutindo esses boatos na Câmara, quando a tia da vítima se
manifestou durante a sessão confirmando o caso da sobrinha. Após a
sessão, recebi a família no meu gabinete e corri atrás de informações
que pudessem colaborar com a elucidação do caso. Com a placa do carro
em mãos, descobri várias informações sobre o criminoso e fui à
delegacia apresentar ao delegado no dia 22 de setembro. Depois de oito
dias ele foi preso. Fico muito feliz em ter colaborado para que esse
crime não ficasse impune”, conta o vereador.
Tarado diz que vítima consentiu
Natural
do Piauí, Aldenir Nonato dos Santos, 35 anos, é divorciado e trabalha
como motorista em São João de Meriti, cidade em que mora. Em
depoimento, ele admitiu na delegacia a relação sexual, mas alega que
teria ocorrido com o consentimento da vítima.
“Eu
estava na casa de uns amigos em Santa Cruz e na hora de ir embora
resolvi pegar um caminho diferente do que estava acostumado a fazer.
Sempre volto pela Barra e depois pego as linhas Amarela e Vermelha, mas
nesse dia resolvi ir por um caminho que ouvi falar que existe por
dentro de Seropédica. Só que eu acabei me perdendo e quando vi uma moça
passando decidi pedir informações. Ela se ofereceu para me levar,
entrou no carro e começamos a conversar. Ela me falou da sua vida e
durante a conversa rolou um beijo e eu perguntei se poderíamos ir para
um lugar mais calmo e ela aceitou. Fizemos sexo duas vezes no banco de
trás do carro, mas eu não forcei nada. Depois eu a levei de volta para o
Centro de Seropédica e fui embora”, contesta o preso.
Outro caso
Depois
da prisão de Aldenir, outro caso de estupro envolvendo o acusado veio à
tona. Trata-se de uma adolescente de 16 anos que também teria sido
sequestrada pelo criminoso no Centro de Seropédica. Traumatizada a
menina foi morar com parentes em Corumbá, Mato Grosso do Sul. A
reportagem do ATUAL localizou a menina, que aceitou dar entrevista. O
fato aconteceu no dia 26 de maio próximo a Câmara Municipal.
De
acordo com a vítima, ela passava pela Rua do Grêmio por volta das 21h
quando foi surpreendida pelo homem que pedia informações.
“Ele
estava num carro preto, parou e me perguntou onde ficava uma Igreja
chamada Assembleia de Deus da Matriz. Eu disse que não sabia onde era e
que precisava ir embora. Ele insistiu em pedir ajuda dizendo que era
de fora e que precisava urgentemente buscar uma pessoa nessa igreja.
Até me ofereceu dinheiro, mas eu não aceitei e disse que precisava ir
porque estava com pressa. Eu saí andando, já desconfiada, e ele começou a
me seguir. Eu disse novamente que não tinha como ajudá-lo e que era
para ele pedir ajuda a outra pessoa. Foi quando ele me apontou a arma e
me mandou entrar no carro disfarçadamente e sorrindo para ninguém
perceber, pois a rua estava movimentada naquela hora. Eu fiquei
desesperada sem saber o que fazer e acabei entrando no carro”, conta a
vítima.
Neste caso, a vítima conseguiu fugir. Com medo de sofrer o abuso, a garota pulou do carro em movimento.
“Depois
que entrei no carro, ele colocou a arma na minha cabeça e continuou a
andar pela Rua do Grêmio e depois começou a dar muitas voltas. Ele
passou por alguns lugares escuros que eu não conhecia. Eu estava
desesperada, gritava sem parar pedindo que ele me soltasse. Ele me
mandou calar a boca e começou a dar gargalhadas. Eu aproveitei um
momento em que ele passou pelo quebra-molas, abri a porta e pulei com o
carro em movimento. Ele tentou me segurar puxando minha blusa, mais cai
no chão. Quando ele viu que eu não tinha morrido, ele deu ré no carro
para me atropelar, mais eu corri e pedi por socorro”, descreve os
momentos de terror.
Depois
do episódio, a menina decidiu se mudar. “Fiquei traumatizada. Não
conseguia andar sozinha nas ruas e quando via algum carro preto me
apavorava. Então decidi vir para o Mato Grosso do Sul. O mais incrível
disso tudo foi que tentei dar queixa na delegacia de Seropédica e não
consegui. Eles não deram importância, simplesmente não quiseram
registrar o fato”, revelou.
Familiares
da vítima, que souberam da prisão de Aldenir, enviaram a foto do
acusado por e-mail e ela o reconheceu. “Recebi a foto, foi ele mesmo.
Me proponho a fazer qualquer coisa para ajudar. Só espero que a Justiça
seja feita!”, concluiu.
Delegado fala sobre os boatos
O delegado titular da 48ª DP (Seropédica), Alexandre Gusmam, falou sobre a onda de boatos envolvendo casos de estupro na cidade.
“Existem
casos de estupro registrados, mas não existe nenhum maníaco atacando
mulheres na cidade. A cidade foi inundada por boatos que começaram a se
espalhar, inclusive nas redes sociais. Participamos de reuniões com
vários grupos da sociedade para explicar que não havia nenhum maníaco
na cidade”, argumenta.
O delegado contou alguns boatos que amedrontaram a população nas últimas semanas.
“Na
semana passada alguém inventou uma história de uma menina de nove anos
que foi encontrada morta no lixão empalada com um pedaço de bambu.
Depois surgiu uma informação de que havia uma menina de nove anos que
havia sido violentada pelo maníaco e que estaria entre a vida e a mote
no Posto de Saúde. A PM não sabia, o Conselho Tutelar não sabia, o
Posto de Saúde não sabia, resultado: notícia falsa. Chegou-se ao ponto
de ter uma aglomeração de moradores numa capela ao lado da prefeitura
esperando pelo velório dessa menina. Teve gente vindo à delegacia
perguntar quando é que a delegacia iria liberar o corpo da menina para o
enterro”, conta.
Alexandre
Gusmam ainda comentou o caso de Sirlene. No caso dessa vítima tem um
detalhe diferente de qualquer outro estupro que acontece, ela conseguiu
anotar a placa do veículo do agressor. De posse dessa pista, a gente
levantou o proprietário, conseguiu uma fotografia e a vítima o
reconheceu. Com base nisso a gente pediu a prisão dele. Conseguimos
achá-lo em São João de Miriti”, contou o delegado informando que o
acusado não tinha passagem pela polícia.
Registro encontrado no Piauí
Existem
informações de que o acusado já tenha sido preso por estupro no Estado
do Piauí, mas por razão de Habeas Corpos ele teria migrado para o Rio
de Janeiro. A data do inquérito está registrada em 11/01/2010 e do
Habeas Corpos em 2009.
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